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Arara-de-spix: de volta ao lar

15 Jun, 2022
Arara-de-spix: de volta ao lar

O dia 11 de junho de 2022 foi uma data histórica para conservação de animais e para os amantes de aves, assim como nós. Nesta data foram reintroduzidas na natureza, após mais de 20 anos de extinção, oito exemplares da Ararinha-azul-de-spix.

A Ararinha-azul-de-spix (Cyanopsitta spixii) foi descoberta em 1819, pelo naturalista alemão Johann Baptist Ritter von Spix, que foi homenageado tendo seu sobrenome incorporado na segunda parte do nome científico da espécie que ele descobriu. Já a primeira parte do nome diz respeito a sua cor azul: Cyano significa azul e psitta faz referência aos psitacídeos, família ao qual a Ararinha pertence.

Sua descoberta aconteceu há mais de 200 anos! Faz muito tempo, não é mesmo?

Realmente as Ararinhas-azuis-de-spix têm bastante história para nos contar!

Essa Ave é endêmica da Caatinga, no sertão da Bahia, próximo à divisa de Pernambuco, às margens do Rio São Francisco. Lá, as Ararinhas se alimentam de frutos e sementes nativos dessa região, principalmente de duas plantas conhecidas como pinhão-bravo (Jatropha mollissima) e favela (Cnidoscolus phyllacanthus).

Não há informações precisas sobre o padrão reprodutivo dos casais em vida livre, já que esta nunca foi uma espécie muito numerosa desde a sua descoberta. Sabemos que se reproduzem durante a estação chuvosa, de novembro a março, realizando posturas de 2 ou 3 ovos e que seus ninhos são construídos em cavidades de árvores.

A espécie foi considerada extinta em 2000, sendo que o último exemplar vivo em vida livre era um macho que vivia junto à uma fêmea de Ararinha Maracanã (Primolius maracana) e que a partir deste ano, não foi mais localizado. Existem diversas teorias sobre as possíveis causas da extinção dessa espécie, sendo que a principal é a modificação e destruição de seu habitat natural, a Caatinga.

Para nossa sorte, um pequeno grupo de criadores e instituições de diferentes países do mundo as mantiveram sob cuidados humanos e obtiveram sucesso em reproduzi-las, conseguindo aumentar a sua população mantida sob seus cuidados.

Isso nos trouxe esperança, pois em conjunto com a Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e diversos parceiros ao redor do mundo, foi possível que, em 2020, as primeiras 52 Araras-azuis-de-spix fossem trazidas para o Brasil iniciando-se a jornada de criação e adaptação, em seu verdadeiro lar, Curaçá/BA. O local foi projetado especialmente para esse momento único e histórico da humanidade!

Foram selecionados oito Araras-azuis-de-spix que melhor se adaptaram às condições existentes em Curaçá, e junto a elas, foram colocadas suas companheiras, as Ararinhas Maracanã, devido a sua esperteza e agilidade, para que houvesse a interação e aprendizado entre elas, estimulando as Ararinhas a terem mais desenvoltura nessa nova jornada em vida livre.

Foto: José Selmi – NuTrópica

E então, no dia 11 de junho de 2022, as portas do viveiro foram abertas!

Durante o dia, elas são livres para saírem e conhecerem seu verdadeiro lar. O alimento é posto do lado de fora do viveiro a fim de estimular a sua saída. Ao anoitecer, elas retornam voluntariamente para o viveiro, pois sentem que é um ambiente seguro para pernoitar e para se protegerem dos predadores. Isso permanecerá até que elas se sintam seguras e tenham destreza para sobreviver e viver definitivamente, na natureza.

Para nós, fica o sentimento de gratidão a todos os Criadores envolvidos, pois graças a eles que ainda podemos ver espécies consideradas extintas, de volta ao lar. Graças a eles, que são apaixonados por aves, que esse sonho foi possível!