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Você já ouviu falar da Arara-azul anã? Estudos confirmam a existência delas!

07 Dec, 2022
Você já ouviu falar da Arara-azul anã? Estudos confirmam a existência delas!

A belíssima Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), também conhecida como Arara-azul-grande, arara-preta, arara-una e arara-hiacinta, é a maior ave da família dos Psitacídeos.

Considerada uma das aves-símbolo do Pantanal Mato-grossense, também pode ser encontrada em menor quantidade no Cerrado. Essa espécie pode atingir até 100 cm de comprimento, do bico ao final da cauda, e pesar, em média, 1,3Kg, com alguns indivíduos podendo chegar à 1,5Kg.

A Arara-azul é uma ave monogâmica e não migratória. Apresenta um ciclo reprodutivo lento, que ocorre entre julho e fevereiro, com uma baixa taxa reprodutiva. Além disso, é altamente especializada quanto à alimentação e aos locais de nidificação.

A cada postura, a maioria das fêmeas põe apenas 2 ovos e, normalmente, apenas 1 sobrevive. Os pais cuidam intensivamente dos filhotes por aproximadamente 3 meses e meio, mas depois que os filhotes saem do ninho, eles ainda dependem dos pais para se alimentarem, e essa dependência pode durar até 18 meses.

Foto Bruno Carvalho

Graças ao trabalho do Instituto Arara-azul, pesquisadores brasileiros mapearam os estágios de desenvolvimento de proximamente 400 filhotes desta espécie, em vida livre. Durante 30 anos, de 1991 a 2021, a bióloga Neiva Guedes (fundadora e presidente do Instituto), da Universidade Anhanguera-Uniderp, de Campo Grande (MS), e seus colaboradores monitoraram 473 ninhos naturais e 415 artificiais, que abrigavam aves recém-nascidas.

E foi através desses esforços a longo prazo, acompanhando desde a postura dos ovos até os filhotes saírem dos ninhos, que os pesquisadores conseguiram confirmar a existência de Araras-azuis anãs.

O artigo científico publicado na revista Scientific Reports, em setembro de 2022, nos traz a confirmação, mencionando que o peso e o comprimento total dessas Araras-azuis anãs são cerca de um quinto menor em relação à população total da espécie. A cauda também é 70% menor do que os demais exemplares considerados normais.

“Identificamos 31 araras anãs entre os filhotes, cerca de 8% da amostra total, mas apenas 15 delas foram analisadas, aquelas que se desenvolveram até voar”, explica Guedes.

Foto Lucas Rocha

Segundo os dados divulgados, 381 filhotes de tamanho normal deixaram o ninho, em média, com 107 dias de vida, pesando 1,1 kg e com 66,7 centímetros (cm) de comprimento total. Já os 15 filhotes anões saíram do ninho, em média, com 126 dias, 938 g e 33,9 cm.

“Usamos quatro diferentes modelos matemáticos para descrever o crescimento dos filhotes”, explica Guedes. “Por mais que não acompanhem o desenvolvimento padrão, as araras anãs sobrevivem ao sair do ninho, pareiam com outros indivíduos e se reproduzem normalmente.” A massa corpórea, os comprimentos do corpo e da cauda foram as medidas que abasteceram as equações para as curvas de crescimento da espécie, analisadas durante o estudo.

A pergunta que permanece é o porquê dessa mudança física. Ainda não foi possível concluir os motivos, mas acredita-se que alguns fatores podem ter contribuído: mudanças climáticas como alterações da temperatura e dos níveis de chuva, disponibilidade e baixa qualidade dos alimentos, diferenças entre os sexos, tamanho da ninhada e ocorrência de doenças.

Para o ornitólogo Luís Fábio Silveira, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), o artigo sobre o desenvolvimento dos filhotes de araras-azuis apresenta robustez estatística e é um dos poucos do país a contar com dados tão detalhados e provenientes de um trabalho de acompanhamento de três décadas. Além de ser importante para entender a biologia específica da ave pantaneira, a pesquisa traz informações que podem ser úteis para a elaboração de estudos comparativos com outras espécies de grande porte da família dos Psitacídeos, como a Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), ave endêmica do nordeste da Bahia e ameaçada de extinção.

Hoje em dia, a Arara-azul-grande não aparece mais na lista das espécies ameaçadas de extinção, mas é considerada uma espécie vulnerável, ou seja, que ainda precisa ser cuidada e preservada. E isso só é possível graças aos esforços para a conservação e preservação da espécie, feitos através do Instituto Arara-Azul, e de todos aqueles que colaboram.

Quer saber mais sobre esse artigo científico? Acesse: Growth model analysis of wild hyacinth macaw (Anodorhynchus hyacinthinus) nestlings based on long‑term monitoring in the Brazilian Pantanal.