Mais de 200 Jacutingas (Aburria jacutinga) foram reintroduzidas na natureza nos últimos anos.

02 Feb, 2023

Considerada uma das principais Aves dispersoras de sementes do palmito-juçara, também em risco de extinção, a Jacutinga (Aburria jacutinga) é uma espécie de Ave da Mata Atlântica que pertence à família dos Cracídeos, a mesma família dos Mutuns e Jacus, considerados parentes distantes dos faisões e perdizes europeias e asiáticas.

A Jacutinga é capaz de se alimentar de mais de 40 espécies diferentes de frutos da Mata Atlântica, colaborando na dispersão das sementes, na manutenção das florestas e dos sistemas hídricos. Por este motivo, são conhecidas como "jardineiras da Mata Atlântica".

Durante o período de reprodução, a Jacutinga coloca de 3 a 4 ovos em árvores bem altas e escondidas, para manter os ninhos protegidos. O tempo de incubação é de aproximadamente 28 dias. Após o nascimento, os filhotes permanecem com os pais entre oito a dez meses. Após esse período, os pais expulsam os filhotes e iniciam um novo período reprodutivo.

O desmatamento da Mata Atlântica, a degradação e a perda de habitat no bioma, além da caça ilegal, são ameaças constantes a essas Aves. Mesmo em reservas protegidas por lei, elas são alvo de criminosos.

Hoje, existem diversos projetos para a criação e soltura dessa Ave na natureza, pois ela vem sumindo de seu habitat e é considerada extinta em muitos locais onde costumava ocorrer, como nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e sul da Bahia. Em Itatiaia/RJ, foi vista pela última vez em 1978, e na Serra dos Órgãos (RJ), em 1980.

A espécie faz parte do PAN - Plano de Ação Nacional das Aves da Mata Atlântica e consta na lista de 25 espécies prioritárias para conservação, definidas no Acordo de Cooperação Técnica, firmado em 2018 entre a AZAB - Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil, o ICMBio e o Ministério do Meio Ambiente.

Sendo assim, é fundamental a existência de criadouros legalizados, zoológicos, instituições de pesquisa científica e aquários que, através de muito esforço, dedicação e paixão, contribuem imensamente para o trabalho de conservação ex situ de espécies ameaçadas.

Estas instituições frequentemente trabalham de forma integrada. Dentre elas, temos o Projeto Jacutinga: uma parceria entre a Associação para Conservação das Aves do Brasil - @SAVEBrasil e a Fundação Parque Zoológico de São Paulo.

Outra notícia boa é que, há mais de duas décadas, no ano 2000, três criadouros de Aves, CRAX – Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (Minas Gerais), Guaratuba (Paraná) e Tropicus (Rio de Janeiro), assinaram um acordo de cooperação técnica para trabalharem em conjunto para reintroduzir as Jacutingas em áreas da Mata Atlântica, onde a espécie foi praticamente extinta no passado.

Após muito trabalho e dedicação desses criadores nos últimos 22 anos, a cooperação técnica tem sido uma história de sucesso para os projetos de conservação no nosso país.

A primeira soltura realizada por eles ocorreu em 2003, na Fazenda Macedônia, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) situada no município de Ipaba/MG, onde 220 Jacutingas já foram soltas até então, sempre em áreas protegidas. Elas também foram reintroduzidas em reservas do Rio de Janeiro e Paraná.

No Paraná, 30 delas foram levadas para o Parque Ecológico Klabin, em Telêmaco Borba/PR, onde já habitavam 10 Jacutingas. O local é composto, em sua maioria, por floresta nativa, e há anos que não se avistava uma Jacutinga naquela região.

O melhor ainda é que já derivaram das solturas, 55 filhotes dessas lindas Aves! Os criadores comemoram essa conquista e ressaltam: “A Jacutinga é uma Ave símbolo de resistência que ainda habita a Mata Atlântica e muito ajuda a natureza”.

Roberto Azeredo, um dos nomes mais importantes no Brasil, quando se trata da reprodução ex situ com fins de soltura, é um dos criadores participantes do projeto e revela: “O objetivo da equipe é ampliar a criação do que chamamos de ilhas de bancos genéticos da espécie, em toda a área de ocorrência original da Jacutinga”.

Os esforços são contínuos, para que muitas outras espécies possam ser preservadas e mantidas na natureza, com o objetivo real de evitar a extinção.

Por isso, todo trabalho sério de criação legalizada de Aves merece nosso apoio, para que mais feitos como esse possam acontecer.

---