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Conheça as espécies mais importantes de Caboclinhos

11 Jan, 2024
Conheça as espécies mais importantes de Caboclinhos

Por que essas lindas aves são conhecidas como Caboclinhos? Para entendermos melhor, precisamos viajar um pouco pela história.

O nome Caboclinho é genuinamente popular e se deu início com as primeiras descrições da espécie Sporophila bouvreuil. Nos primeiros relatos desta espécie em nosso país, feitas pelo pesquisador Johann Natterer, entre 1817 a 1835, estas aves foram relacionadas como Caboclinhos, pois assim eram conhecidas popularmente. E assim se manteve na publicação de um importante livro que descrevia as diferentes espécies de aves brasileiras, o Ornithologie Brasiliens, elaborado por August von Pelzeln em 1871.

A partir daí, o nome Caboclinho se estendeu a outras aves de seu gênero. Acredita-se que o motivo para esse nome popular se deve ao fato de sua cor acobreada, em tons de marrom e/ou canela, que lembram a cor dos nossos “caboclos” (descrita dessa forma pelos dicionaristas da época). Atualmente, existem 11 espécies de aves conhecidas popularmente como Caboclinhos, e todas elas são filogeneticamente muito próximas.

A maioria das espécies de Caboclinhos foi descrita nos séculos XVIII e XIX, quando os taxonomistas usavam como referência, a aparência externa, o canto, o hábitat e o comportamento das aves para diferenciá-las. Para todas as espécies de Caboclinhos, o seu esqueleto é idêntico, de forma que não é possível distingui-las apenas pela análise de seus ossos. Com isso, o nome popular “Caboclinho” costuma destacar seu principal traço físico, a marca registrada que faz os taxonomistas reconhecê-la em meio a espécies semelhantes. O Caboclinho-de-papo-escuro tem, por exemplo, uma mancha negra abaixo do bico e o Caboclinho-branco é a espécie com mais quantidade de plumagem com coloração mais clara, tendendo ao branco. Os Caboclinhos, em geral, são conhecidos como delicados gorjeadores, sendo o seu canto composto por melodias suaves, agradáveis e com variadas notas.

Os Caboclinhos, assim como ocorre com outras aves do gênero Sporophila, também são mencionados popularmente por papa-capins, já que são aves granívoras que dependem quase que exclusivamente de diferentes espécies de capins nativos, pois além das sementes, que são seu principal alimento, também fazem seus ninhos entre os ramos deste tipo de vegetação. O nome científico Sporophila (do gênero), também tem a ver com sua preferência alimentar, pois significa amigo das sementes. Os locais preferidos dessas aves são os capinzais conhecidos como paludícolas, ou seja, encontrados em áreas úmidas, próximos a brejos e áreas encharcadas.

Muitos das espécies de Caboclinhos são migratórias, ou seja, viajam para o norte do país durante o inverno e retornam a caminho do sul na primavera. Em sua rota migratória, somente algumas espécies são avistadas no estado de São Paulo. Neste processo de migração, os remanescentes de capins nativos são muito importantes, pois servem de abrigo e fornecem alimento às aves durante a viagem. Desta forma, a degradação das áreas naturais onde ocorrem estes capins nativos é um fator importante para o declínio da população dessas aves.

Logo abaixo, conheça as principais espécies de Caboclinhos, que estão ameaçadas de extinção:

1 - Caboclinho – Sporophila bouvreuil

O Caboclinho mede 10 centímetros de comprimento e a coloração geral da plumagem dos machos é de cor canela, com o topo da cabeça, asas e cauda na cor preta. Vive em pântanos, cerrados abertos e campos inundáveis com gramíneas altas.

Ocorre desde os estados do Amazonas, Pará e Maranhão, até o Rio Grande do Sul, incluindo as regiões Nordeste e Sudeste, estendendo-se para oeste até Goiás e Mato Grosso. Encontrado também na Argentina, Paraguai e Suriname.

2 - Caboclinho-branco – Sporophila pileata

Os machos de Caboclinho-branco ou Caboclinho-coroado, como também é conhecido, possuem coloração branco-pardacenta, com o topo da cabeça e bico escuros, asas e cauda na cor preta. É comumente avistado em campos com gramíneas altas cerrados abertos e pântanos.

Antes era visto somente no sul e sudeste do Brasil, do extremo oeste de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e sul do Mato Grosso do Sul até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina. Mas sua distribuição vem aumentando e se expandindo, sendo encontrado também no extremo sul do Mato Grosso, em parte do Tocantins e já foi visto no Espírito Santo. Realizam migrações, porém as rotas são pouco conhecidas.

3 – Caboclinho-de-barriga-preta – Sporophila melanogaster

Assim como o seu nome popular descreve, os machos desta espécie possuem toda a parte inferior do corpo de cor preta, por uma área que se estende desde a base do bico, passando pelo pescoço, peito, abdômen até a base da cauda. As partes superiores são de uma coloração acinzentada. Vive em áreas abertas de Cerrado e Mata Atlântica, como campos de altitude, campos úmidos, banhados, várzeas e brejos.

Essa espécie é endêmica do Brasil, ocorre nas regiões nordeste do Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Realizam migrações, porém as rotas são pouco conhecidas.

4 - Caboclinho-de-papo-branco – Sporophila palustris

O Caboclinho-de-papo-branco é uma espécie rara e pequena, com cerca de 9,6cm de comprimento. O macho possui o topo da cabeça cinza, com uma área branca na região do “papo” – que vai desde as porções laterais da face, abaixo dos olhos, se estendendo por toda a parte inferior do pescoço e início do peito. A região abdominal é marrom escura, e possui as costas acinzentadas.

No Brasil, ocorre na região central, nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, passando por Minas Gerais, sul da Bahia, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Sobre a migração, essa ave passa o verão mais ao sul do país, Uruguai e Argentina, e costuma ser avistado mais ao norte durante a migração realizada no inverno.

5 - Caboclinho-de-chapéu-cinzento – Sporophila cinnamomea

Como o seu nome popular sugere, os machos de Caboclinho-de-chapéu-cinzento possuem a parte superior da cabeça de coloração cinza, e praticamente todo o restante de sua plumagem possui coloração marrom acastanhada. Vivem em capinzais, campos limpos e campos alagáveis.

Procria na Argentina, Uruguai, sul do Paraguai e no Brasil ao longo da divisa entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Migra durante o inverno para o norte do Brasil Central, podendo ser avistado em estados como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, e até o sul do Pará. As rotas destas migrações, porém, são pouco conhecidas.

6 – Caboclinho-de-barriga-vermelha – Sporophila hypoxantha

Os machos de Caboclinho-de-barriga-vermelha possuem a parte superior da cabeça até a altura dos olhos, além do dorso, asas e cauda com coloração acinzentada, enquanto a parte inferior da cabeça, peito e ventre possuem coloração castanho-alaranjada.

Vivem em campos abertos, nas proximidades de áreas úmidas ou banhados. Ocorre nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Está se tornando raro no sul e sudeste principalmente devido à destruição do seu habitat.

Fêmeas iguais - Diferentemente dos machos, com as suas diferenças de coloração descritas acima, as fêmeas e as aves jovens das 11 espécies de caboclinhos são muito semelhantes na aparência externa, com plumagem de cores menos chamativas. Isso faz com que seja difícil atribuir a que espécie pertence uma fêmea ou um filhote levando-se em conta apenas esse parâmetro.

Em geral, as fêmeas têm o dorso mais escuro, amarronzado, e a parte ventral é mais clara, em tons de oliva. Como a existência de híbridos entre as 11 espécies é praticamente desconhecida na natureza, os pesquisadores acreditam que as aves tenham algum mecanismo, talvez o canto e a distribuição geográfica, que lhes permita reconhecer o parceiro sexual de sua espécie e, assim, reproduzir-se com os companheiros corretos. Também há evidências de que a plumagem das fêmeas possa exibir tonalidades na faixa do comprimento de onda do ultravioleta, invisível ao olho humano, mas não ao das aves. Esse seria um mecanismo extra de reconhecimento entre as espécies.

Para proteger os Caboclinhos, ajude a preservar as áreas alagadiças e brejos onde crescem as diferentes espécies de capins nativos do Brasil. São estes os locais onde os Caboclinhos vivem e se alimentam. Você pode colaborar para proteger os Caboclinhos, com algumas ações:

- Evitando queimadas e entrada de gado nestes locais;

- Não plantando nada nessas áreas e respeitando a vegetação nativa do lugar;

- Não drenando as áreas alagadas onde existem os capinzais nativos;

- Não fazendo açudes nessas áreas, para não ocorrer o alagamento completo do local;

Desta forma, transformar estas áreas alagadiças nativas em Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) ajuda a conservar diferentes espécies, entre elas, os Caboclinhos. E se você gosta de passarinhar e tiver a oportunidade de registrar fotos dessas espécies, compartilhe com sites que que falam sobre aves, como o WikiAves. Assim você contribuirá para o conhecimento da distribuição geográfica e seus movimentos migratórios, ajudando na conservação das espécies.